Transcrição
Pedia-lhe que especificasse quais julga os interesses estratégicos da UE num mundo multipolar, onde as relações de poder são cada vez mais importantes?
Um aspeto importante é garantir a paz e a estabilidade. Entendemos que acabou a era da cooperação e que o mar de rosas visto em 2003 na estratégia de política externa, criada por Solana, é um mundo que não se tornou realidade. Entrámos numa era de acérrima concorrência e estamos rodeados por uma zona turbulenta de conflito, não por amigos. Como equilibrar estes aspetos: criar uma região estável e os valores da UE? Certamente não como foi feito nas últimas décadas, onde afirmámos ser primeiro necessário garantir os direitos humanos e só depois poderemos entrar em cooperação económica.
Agora percebemos que são aspetos que andam lado a lado. Depois compreendemos agora que nem todos os países vizinhos querem reproduzir o modelo europeu de sociedade ou segui-lo. Interessa-lhes o nosso modelo de prosperidade económica. A próxima questão é sobre regiões e o foco em regiões específicas. A UE tentou focar-se em várias regiões no mundo e, francamente, tem falhado nos seus objetivos em algumas. Não deveria a UE definir regiões concretas onde possa alcançar objetivos, em vez de focar-se em quase tudo? Há duas correntes opostas de pensamento: Há quem acredite que a Europa deve ter grandes ambições globais e há outra linha, que eu defendo, que afirma que a UE deve impor padrões e exportar boa governação.
A principal tarefa é sermos uma potência global com foco regional. Se não formos capazes de estabilizar as regiões da Europa, a nossa ambição de sermos um agente global não tem credibilidade. Uma das questões mais incendiárias que a Europa enfrentará, nas próximas décadas, será a explosão demográfica em África, que fará com que a crise migratória que agora enfrentamos pareça brincadeira. Importa estabelecer uma cooperação efetiva para o desenvolvimento e investir recursos suficientes nas nossas relações externas, o que infelizmente não fazemos, de momento.
Esta estratégia não especifica países. Um especialista francês coloca uma questão nesse sentido. O que fazer perante a Rússia? Destruímo-la? Este texto não refere a necessidade de um acordo pan-europeu de segurança, como o proposto por Medvedev?, em 2008. Tal não interessa à UE, que prefere o discurso do General Breedlove? O que fará a UE dentro de um ano, se presidir Trump à Casa Branca? O que fará a Europa com a Rússia, tal como está, e com o tipo de EUA que podem surgir? A Rússia não é um parceiro fiável, mas é impossível ignorá-la, se queremos estabilidade no nosso continente.
Para mim, a UE não deve preocupar-se em melhorar a situação na Rússia, isso cabe ao povo russo e à elite russa no poder. A Europa deve apostar em fortalecer-se a si mesma. O documento contém vários indicadores de que a UE deve ter um Exército e um serviço de informação comuns. Será essa ideia realista? Acho que será inevitável. Não serão os Estados-Membros contra? Colherá apoio no PE? Colherá apoio no PE, pois as exigências deste foram sempre mais além do que o que os políticos estão dispostos a fazer.
Obrigada por esta entrevista.